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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Dubai sem véu

Não é só o maior fenômeno recente do turismo mundial. É também um fenômeno de marketing. GIULIANA BERGAMO testou um pacote para DUBAI para ver se tudo o que você leu, viu e ouviu é verdade - e para dizer, afinal, como é esse lugar
O Burj Al Arab, na forma consagrada de vela
Seis vezes por semana, um Boeing 777-200LR da companhia aérea Emirates parte do Aeroporto Internacional André Franco Montoro, em Guarulhos, à 1h25. Em 16 de janeiro, embarquei no assento 27-G da classe econômica. Assim como outras 35 pessoas, comprei por 6 200 dólares "A Esplendorosa Dubai e o Mágico Sultanato de Oman", da operadora Queensberry. Fui testar o pacote, o vôo e o destino. Mas só revelei ao grupo que estava a trabalho no fim da viagem, quando já tinha visto até onde vai o "esplendor" de Dubai.
O esplendor, a pujança, as maravilhas, o dinamismo, o paraíso... Só atributos elogiosos rondam Dubai, uma das sete cidades-Estado que compõem os Emirados Árabes Unidos. No meio de uma das regiões mais conturbadas do planeta, o Golfo Pérsico, o pequeno emirado ergueu - e continua a erguer - arranha-céus sob logotipos de multinacionais, redes de hotéis, restaurantes e bares europeus e americanos, entre outros QGs ocidentais. É lá que ficará o hotel da grife Armani, no Burj Dubai, prédio que deve ser o maior já construído. E, em Dubai, tudo cresce rápido. Em apenas cinco semanas, o Burj cresceu nove andares. Em meados do século passado, antes do petróleo jorrar na região, o emirado não passava de um entreposto comercial. Nas últimas duas décadas, graças à família Maktoum, que governa Dubai, suas avenidas ganharam edifícios que deixam os nova-iorquinos no chinelo e trânsito ainda pior que o de São Paulo. Com a mesma velocidade com que gruda tijolos, Dubai atrai mais e mais turistas. No último trimestre do ano passado, hospedou um número dez vezes maior de brasileiros que no mesmo período de 2006. Tal crescimento abrupto deve-se, sobretudo, ao lançamento dos vôos diretos entre São Paulo e Dubai pela Emirates, a companhia aérea dos Emirados. A VT foi até lá pra ver se o xeque está nu. Nossas conclusões...

Dubai sem véu

Não é só o maior fenômeno recente do turismo mundial. É também um fenômeno de marketing. GIULIANA BERGAMO testou um pacote para DUBAI para ver se tudo o que você leu, viu e ouviu é verdade - e para dizer, afinal, como é esse lugar
O Burj Al Arab, na forma consagrada de vela


>>É a cidade mais pujante do Oriente Médio.
VERDADE
Um terço das gruas do mundo todo está lá. Há menos de 20 anos, a Sheik Zayed Road, a avenida mais importante de Dubai, era praticamente um deserto. Hoje, concentram-se ali alguns dos prédios mais altos e imponentes do mundo. Boa parte dos imigrantes que residem na cidade é empregada de construtoras e imobiliárias. Quem transita por lá descobre que o verdadeiro cartão-postal do emirado não é o Burj Al Arab. Atrás dos novos empreendimentos, o hotel em forma de vela que se tornou ícone é apenas uma das poucas visões que se tem além dos andaimes pontilhados de capacetes.

>>É um paraíso de compras.
VERDADE
A isenção de impostos fez de Dubai um grande centro comercial. Dos mercados (os souks) aos grandes shoppings, sempre há algo interessante e barato para comprar. Além disso, fazendo jus à tradição árabe, a regra é barganhar. Tanto é que não há preço nas vitrines. E não estranhe se, ao perguntar quanto custa, você ouvir outra pergunta como resposta: "Quanto você acha que custa?" Trata-se do início de uma longa negociação. A exceção são certas lojas de shoppings. Mas a grande pechincha acontece durante o Festival de Compras de Dubai. Quase toda a cidade entra em promoção durante um mês, a partir do fim de janeiro. Os descontos podem chegar a 75%. Estive lá no primeiro dia do festival, e comprei gravatas Bulgari de seda italiana por 90 dirhams (cerca de 45 reais), uma câmera fotográfica digital de 8 megapixels por 370 dirhams (menos de 200 reais). Compras tímidas. Tem quem saia de lá com carros que custaram 25% do preço normal.

>>É a meca do luxo.
EM TERMOS
Dubai tem as grifes mais caras do mundo. Quem entra no hall do Burj Al Arab dá de cara com uma cascata de chafarizes iluminados que mudavam de cor. As escadas rolantes que levam ao piso superior repleto de vitrines, em que o brilho das jóias disputa espaço com o dourado das colunas, ficam escoradas em dois enormes aquários. Enquanto caminhava por ali, pensava: o que é luxo mesmo?

Dubai sem véu

Não é só o maior fenômeno recente do turismo mundial. É também um fenômeno de marketing. GIULIANA BERGAMO testou um pacote para DUBAI para ver se tudo o que você leu, viu e ouviu é verdade - e para dizer, afinal, como é esse lugar
O Burj Al Arab, na forma consagrada de vela

"Se, para um, luxo é ficar numa pousada de frente para uma praia desabitada, para outro, pode ser tomar uísque ao som de jazz", diz o professor Israel Rocha, chefe do departamento de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. "Mas há algo em comum entre tudo o que se pode classificar de luxuoso: a exclusividade." Ora, eu fui a Dubai espremida numa poltrona de classe econômica ao lado de um argelino grande e, digamos, pouco asseado. Viajei acompanhada quase 40 pessoas e, nos momentos em que tentei ficar sozinha e flagrar algo só meu, tive problemas. Isso é luxo?

>>É a Las Vegas do Oriente.
MITO
Os Emirados Árabes Unidos são um país muçulmano. Esse é um mantra que deve ser repetido durante a viagem, sobretudo pelas mulheres. O que, no Ocidente, é considerado um pequeno prazer - uma boa taça de vinho, um beijo demorado no meio da rua ou uma partida de truco -, lá é algo rigidamente controlado. O jogo é proibido, o álcool só é permitido dentro de hotéis e restaurantes para turistas, e os casais são orientados a sequer dar as mãos ao transitar pela rua. O rigor vai além. Ao preparar a mala, as mulheres devem, sim, evitar roupas curtas, decotadas e que deixam os braços à mostra. Embora essas medidas sejam dispensáveis dentro dos hotéis, resorts e alguns shoppings, em outros ambientes, como a rua, elas são essenciais para garantir a tranqüilidade. Ainda assim, mulheres que viajam sozinhas não devem andar pela rua desacompanhadas. Os locais aceitam bem outras culturas, mas 85% dos moradores de Dubai são estrangeiros, boa parte deles é de homens e muçulmanos e não necessariamente se beneficia do que o turismo traz para a região. Assédios contra mulheres acontecem. Não há polícia feminina para livrar uma turista desse tipo de enrascada.
Como tenho a pele muito clara e costumo ser confundida com estrangeira em meu próprio país, já passei maus bocados em lugares muito familiares a mim, como Salvador, na Bahia. Nunca, no entanto, fui tão ofendida com olhares como em Dubai. Lá, me sentia como se eu estivesse passando nua na frente de uma construção. E garanto que não há mulher que goste de receber assovios nessas condições. São olhares que misturam desejo com repúdio. Ainda assim, eu voltaria de Dubai só com a sensação de incômodo não fosse um episódio que considero grave para um destino do qual se espera segurança. Fui perseguida por um homem na rua do hotel em que eu estava hospedada. Ao perceber que o sujeito que me encarara quando passei por ele andava em paralelo comigo, fulminei-o. Para meu espanto, em vez de intimidá-lo, consegui um sorriso sarcástico de volta. Pensei em xingar, gritar, sair correndo, mas tive medo. Por sorte, vi que três pessoas do meu grupo estavam a poucos metros de nós, do outro lado da rua que eu cruzaria. Chamei por eles e, como não fui ouvida, provoquei um novo riso de meu algoz. Gritei novamente. Dessa vez, com sucesso. Duplo. Quando viu que eu tinha companhia, o sujeito embrenhou-se nas vielas perpendiculares à rua por onde andávamos.

Dubai sem véu

Não é só o maior fenômeno recente do turismo mundial. É também um fenômeno de marketing. GIULIANA BERGAMO testou um pacote para DUBAI para ver se tudo o que você leu, viu e ouviu é verdade - e para dizer, afinal, como é esse lugar
O Burj Al Arab, na forma consagrada de vela
>>É a Disney dos adultos.
MITO
Estive em Orlando por duas semanas há 13 anos. Eu, meu irmão mais novo e minha tia-solteira-bacana chegávamos aos parques logo de manhã e só íamos embora tarde da noite. Apesar do nosso empenho, o tempo não foi suficiente. Sobrou água na boca para voltar um dia com os filhos. Dubai não é assim. Bastam poucos dias - uma semana, no máximo - para ver o que há para ser visto. Tanto é que a maioria dos pacotes inclui entre quatro e cinco noites no emirado. Nem a promessa de novas pistas de esqui indoor e ilhas artificiais aguçaram minha curiosidade. Estava visto.
Para aproveitar a viagem de, no mínimo, 14 horas de vôo, uma boa idéia é combinar Dubai com outros destinos próximos, como Jordânia, Maldivas, Egito, Marrocos, Turquia, Seychelles, China e até mesmo Japão. Eu estive em Omã, cuja beleza natural é infinitamente superior à de Dubai.

>> O vôo da Emirates é absolutamente fantástico.
EM TERMOS
A executiva tem poltrona que reclina 90 graus e faz massagem durante o vôo, a comida é boa e parece, sim, primeira classe. O único porém é que há uma espécie de meia parede entre as poltronas e quem viaja acompanhado mal pode dar as mãos. Na primeira classe, cada assento é como um minicamarote que se fecha quando o passageiro quer mais comodidade. A poltrona também se transforma em cama e, no kit de amenidades, tem até perfume de marcas chiques como a Bulgari.

Dubai sem véu

Não é só o maior fenômeno recente do turismo mundial. É também um fenômeno de marketing. GIULIANA BERGAMO testou um pacote para DUBAI para ver se tudo o que você leu, viu e ouviu é verdade - e para dizer, afinal, como é esse lugar
O Burj Al Arab, na forma consagrada de vela

A classe econômica, no entanto, não é lá essas coisas. Não parece mesmo uma executiva, o pão é frio, o café é fraco, a sobremesa tem gosto de isopor e não dá pra espichar as pernas (são 81 centímetros entre uma poltrona e outra). Mas tem um montão de filmes, CDs e episódios de seriados só para você na tela plana fixada na sua frente (são 142 filmes em cartaz, 26 canais de áudio e 15 de televisão), dá para falar via interfone com passageiros de outros assentos e, se você não ficou na janelinha, tudo bem. Duas câmeras - embaixo e na frente da aeronave - mostram para você o que está acontecendo lá fora.

>> É uma viagem para vivenciar a cultura muçulmana.
EM TERMOS
Apenas uma das mesquitas de Dubai está aberta para visitação e pode ser fotografada. Em países como a Turquia ou o Egito, em que a cultura islâmica também está presente, há outras opções de visita a esses templos. Além disso, 85% da população de Dubai é estrangeira e nem todos são muçulmanos. Por causa disso, os hábitos locais ficam mais diluídos. Com freqüência, eu ouvia algum dos cinco chamados diários para orar que vêm das mesquitas. Em nenhum momento, no entanto, vi pessoas rezando. Há, sim, mulheres de véu e manto negro pelas ruas e pelos shoppings. Mas, se é pela experiência, Dubai vale mais para um começo, para iniciantes no mundo islâmico.
















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